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A DOR DE ESTAR SOZINHO

Atualizado: 20 de mai. de 2021

Como o missionário tem enfrentado a enfermidade e a morte?


No processo do envio de missionários ao campo, uma nuvem de êxtase quer esconder, por algum tempo, difíceis circunstâncias que fazem parte da realidade, entre elas a enfermidade e a morte. Enfrentar estas realidades quando sente que está sozinho no campo é extremamente difícil para o missionário! A não presença da igreja enviadora, de seus pastores e líderes, permite que cresça a incompreensão da realidade e dos desafios enfrentados por seus obreiros que foram enviados, mas principalmente permitem que muros de dores sejam levantados nestes momentos, gerando distanciamento e solidão do missionário.


Este pequeno prelúdio é intencional para inserir o leitor para o tema que quero compartilhar:


CONTEXTO DE ENFERMIDADE E MORTE ENTRE OS MISSIONÁRIOS.


ENFERMIDADE

Reafirmo que para a igreja enviadora que tem pouco nível de comunicação e interação com seus missionários, será difícil acompanhar e apoiar seus obreiros de forma adequada no adoecimento e mais ainda nas etapas de diagnóstico, conceituação da enfermidade, definição de tratamento, formas de prevenção e apoio ao sistema familiar. Imaginar que por estarmos no serviço ao Senhor em seu ministério, não podem nos afetar graves enfermidades ou morte, é grande equivocação e má compreensão do ensino bíblico.

“É comum, durante a vida de qualquer ser humano, adoecer em algum momento, mas há doenças que são mais graves e que podem ameaçar a vida como, por exemplo, o câncer.”


O missionário, assim como qualquer outro ser humano, está sujeito a adoecer e então como poderemos apoiá-lo? Para isso será importante ouvir as opiniões do missionário e sua família, eles são os que estão enfrentando esta dura jornada em primeira linha.


Criar um apoio unilateral sem a participação deles, na maioria das vezes, será grave erro, pois “com frequência, são a mentira e a evasão o que mais isola os pacientes atrás de um muro de palavras ou de silêncio e os impede de aceitar o benefício terapêutico de partilhar os medos, angústias e outras preocupações”. Por fim, a igreja enviadora não deve eximir-se em sua participação e apoio, não devendo transferir esta tarefa de cuidado para a agência missionária ou tampouco para o seguro saúde! Lembremos que aquele que está enfrentando uma enfermidade ou até a morte deseja ter amigos ao seu lado, que o possam ajudar a ultrapassar os desafios deste novo e estranho mundo: “A partir do momento em que a pessoa tem seu diagnóstico confirmado, ela passa por uma crise vital de muito sofrimento. Adentra num mundo que lhe é estranho, o mundo da doença e do tratamento.”


COMPREENDENDO O SOFRIMENTO - Compartilhando a capa

Uma das consequências do diagnóstico de uma grave enfermidade é que o sofrimento possui muitas facetas, não é apenas físico, pode afetar até a razão comum ou a compreensão da fé. Possivelmente não teremos muitas respostas e soluções prontas para oferecer ao missionário que está enfrentando o sofrimento. Mas o que ele espera é o nosso dispor a compartilhar nossa capa e juntos, em meio a incerteza, sermos sustentados pela confiança que descobriremos em Deus durante toda esta jornada.


Foi entre o período de guerra que surgiu o serviço de “capelania” que é derivado do latim capella, ou pequena capa “...a origem desse termo se dá a partir da história do soldado Martinho de Tours (316-397 d.C.) que era um oficial da cavalaria do exército romano. Segundo André Antunes (2018, p.28), Martinho entrava na cidade de Amiens, no norte da França, num inverno rigoroso quando encontrou um pobre que suplicava por ajuda, então, rasgou sua capa de militar ao meio com sua espada e a doou ao mesmo, depois vestiu-se com a outra metade.”


MORTE

Em nossa cultura, brasileira, de forma geral, falar sobre a morte, todavia é uma barreira e que pode causar um mal agouro, atraindo algo de ruim. Mas conversar sobre a morte é preparar-se e aprender.


Elizabeth Kübler-Ross (1969), em seu livro “Sobre a morte e o morrer”, cita dez grandes reações emocionais que as pessoas podem ter diante da morte: negação, raiva, barganha, depressão, aceitação, choque, esperança, negaçãoparcial, luto antecipatório e decatexia, que é processo inverso a catexia, ou seja, uma frieza total em relação a um objeto, mas o justamente é “onde a pessoa que está morrendo precisa aos poucos desinvestir emocionalmente da vida, interiorizando-se cada vez mais. Esse é um exercício de abnegação e entrega, de realização espiritual plena.


Finalizo afirmando que a antítese do epílogo exposto é: caminharmos juntos com os missionários que são enviados aos campos, não com olhos encobertos, mas com clareza olhando as adversidades do caminho. Não teremos muitas respostas, compartilharemos nossa capa e seguramente descobriremos graça e favor de Deus.


 

E.RIBEIRO, é formado em Radialismo, Bacharel em Teologia, Pós-graduado em Aconselhamento Cristão Contemporâneo e juntamente com sua família são missionários desde o ano 2002 entre nossos amigos muçulmanos no Norte da África, aprendendo e servindo com a igreja que é perseguida nesta região. São fundadores do projeto Eu Oro pelo Norte da África.

REFERÊNCIAS

SANCHEZ, Esp. Clarissa - Aconselhamento no Contexto de Enfermidade e Morte. Faculdade Teológica Sul Americana: Londrina, Brasil, 2019.

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