BAM, B4T... NEGÓCIOS NO NORTE DA ÁFRICA
Foi durante os anos que estivemos servindo no Norte da África que pudemos ter a experiência de empreender, criar um novo negócio, estabelecendo uma empresa nesta região. Quando se poderia imaginar isso? Aconteceu quando já tínhamos ultrapassado vários desafios iniciais como a adaptação cultural, aprendizagem dos idiomas e conseguido nos estabelecer como família neste país.
No primeiro ano tínhamos que sair do país a cada três meses para 'renovar' o visto, mas a tensão que vivíamos era grande porque ao reentrar não havia legalmente uma permissão para isso e infelizmente alguns obreiros não conseguiram dar continuidade no ministério a partir daí. Posteriormente obtivemos outra forma de visto no país e estávamos muito agradecidos a Deus pela oportunidade que tivemos de ter este visto, mas tempos depois ter nosso visto através do negócio que estávamos empreendendo foi um grande avanço principalmente para as relações dentro desta sociedade.
Através da iniciativa empresarial respondemos perguntas básicas e muito importantes:
Quando pensamos em servir em um país onde é proibido o trabalho missionário temos que ter em mente que será importante dar respostas simples para a sociedade na qual estamos inseridos: "Por quê saímos do nosso país para viver como família neste novo país?", "Por quê decidimos sair do nosso país onde há avanços e liberdade para viver neste que oferece restrições?". Uma resposta enfocando o chamado ou direção de Deus não será suficiente para não surgir dúvidas nas mentes dos amigos muçulmanos com quem estabeleceremos novas relações. Para eles (assim como também é para nós, em nossas sociedades) é importante saber qual a função um estrangeiro terá dentro da sociedade e através de que tipo de trabalho ele conseguirá o sustento para sua família. Esta será a base para estabelecer, de forma concreta, boas relações e encontrar as oportunidades de Deus para compartilhar as Boas Novas.
Através da iniciativa empresarial ser sal e luz de uma forma natural
Sempre a melhor forma de compartilhar as Boas Novas é quando de maneira integral vivemos o Evangelho, isto é importante em qualquer contexto e ainda mais entre nossos amigos muçulmanos, nossas vidas estão sendo observadas constantemente. Me lembro certa vez de um amigo muçulmano, de quem com regularidade realizava compras de materiais, me perguntar "— Que tipo de cristão é você?" e fiquei mais surpreendido com a afirmação que ele fez em seguida: "— Eu lhe observo constantemente... vejo a maneira como você se relaciona com as pessoas aqui quando realiza suas compras, a maneira como trata sua esposa e filhas... vejo até a maneira como utiliza seu dinheiro!". Isto nos abriu muitas portas para compartilhar com ele em diferentes ocasiões sobre nossa prática de fé e sobre Deus a quem buscávamos glorificar em tudo que estávamos fazendo (I Cor. 10:31).
Em outra oportunidade me lembro de que estava preocupado porque tinha a necessidade de um material para a empresa e não encontrava um fornecedor daquele produto. Fui até outra região da cidade até um local que possivelmente teria. Por ser fluente nos idiomas do país o proprietário imaginou que eu fosse um compatriota seu, quando disse que não ele me perguntou então qual era o meu país de origem. Sempre que isto acontecia (e foram várias vezes) eu pedia que me falassem de qual país pensavam que eu fosse, me lembro que todas as vezes citavam somente países árabes! Este senhor muçulmano se surpreendeu quando soube que eu era brasileiro e então fez disse: "- Então você é um muçulmano!" (devido falar seu idioma), com um grande sorriso no rosto eu lhe respondi '— Lá khoya, ana mashí muslim, ana mesihí!' "— Não meu irmão, eu não sou muçulmano, eu sou cristão!".
A partir daí aquilo que era somente a compra de um produto que faltava para nossa empresa se tornou em uma grande oportunidade para compartilhar as Boas Novas de Jesus Cristo. Este meu amigo muçulmano me fez várias perguntas sobre minha fé em Jesus para as quais respondi a cada uma delas, eram perguntas profundas e ele, ali mesmo no balcão de sua empresa, inclusive fazendo anotações em uma folha de papel. No final, revendo suas anotações, ele me disse assim: "— Então o que está me dizendo é que Jesus Cristo é Deus e que sempre existiu. Que em um momento da história da humanidade, segundo as afirmações feitas pelos profetas, ele de forma milagrosa nasceu como um bebê através do ventre de Maria e que durante os anos que viveu entre nós como adulto compartilhou as Boas Novas de Salvação, foi crucificado, morreu e ressuscitou mas que um dia voltará para buscar todos os que acreditaram em sua mensagem?". Estou escrevendo de forma resumida, mas acredito que é possível para você imaginar ter uma conversa tão profunda assim, ainda mais em um país de maioria islâmica? No final ele disse que esta era uma mensagem que ele nunca tinha ouvido e que fazia muito sentido para ele. Deus foi tão bom que tivemos momentos de muita privacidade mesmo sendo um local de negócios.
Que tipo de negócio é adequado para o Norte da África?
Qual a ideia que você tem quando pensa em negócios no Norte da África? Importante lembrar que há muito mais do que areia e camelo! Se a primeira imagem que você tem é o tradicional mercado na 'medina kadíma' (cidade antiga), com suas cores e sempre com muitas pessoas, queremos logo de saída afirmar que também muito mais do que isto. Há grandes e modernos centros comerciais, com marcas de produtos mundialmente famosos.

Este é um mercado aberto e competitivo e muitos dos produtos exportados desde o Norte da África estão no mercado brasileiro há muito tempo, desde o azeite alimentar, cosméticos, produtos essenciais para a agricultura, jeans e até sardinha são alguns destes produtos. Inclusive ao compararmos os números que são oferecidos pelas Embaixadas brasileiras no Norte da África vemos que compramos muito desta região e como mercado brasileiro vendemos pouco para eles.

Por isso as informações que conseguirmos levantar serão muito importantes para compreender a atualidade destes mercados e descobrir as oportunidades de estabelecermos um negócio que seja lucrativo e relevante dentro da sociedade. Pensando nesta afirmação consideremos:
Criar empregos de qualidade para os jovens e estimular o comércio local.
Conectar as empresas líderes com pequenas e médias empresas locais
Incentivar a participação feminina no trabalho
Pensar no sistema educativo para as necessidades do mercado de trabalho.

Um caminho para seguirmos aprendendo
Nos levou bastante tempo para ultrapassarmos os desafios e vermos estabelecida uma iniciativa empresarial no Norte da África. Eram tempos de incertezas, erros e acertos, mas com a graça de Deus vimos lindos frutos do trabalho e investimento. Os resultados vieram através das oportunidades de negócios mas também ao ministério pois durante os anos que vivimos no Norte da África vimos duas pequenas igrejas nascerem.
Sempre quando pensamos nesta região, Norte da África, com os 6 países que proíbem a pregação do Evangelho, pensamos em portas fechadas mas é importante lembrarmos que há muitas portas abertas! Uma destas portas é através das iniciativas de negócios.
Ao pensarmos em iniciativas de negócios através do movimento missionário brasileiro na região do Norte da África é oportuno termos uma mesa para seguirmos aprendendo uns com os outros. Se você também tem esta disposição, por favor, entre em contato. Isto nos permitirá pensarmos e planificarmos desde nossas igrejas enviadoras e bases de treinamento com informações atualizadas. Além disso também nos dará a oportunidade para não repetir erros, o que também é muito importante. Louvamos ao Senhor por organizações como Open Brasil e outras que estão enfocando B4T (Business For Transformation) e tem a disposição para caminharmos juntos nesta região.
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Autor: E. Ribeiro é casado e junto com sua família servem desde o ano 2002 no Norte da África. Missionário transcultural através da Missão Sepal www.sepal.org.br é fundador do projeto ‘Eu Oro pelo Norte da África’ - www.euoropna.com, também é Bacharel em Teologia, Pós-graduado em Aconselhamento Cristão Contemporâneo e Radialismo.